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“A TORMENTA” – Cruzeiro Costa Sul 2013 Ilhabela (SP) – Florianópolis (SC) – Trecho São Francisco/Joinville (SC) – Florianópolis (SC)

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(Durante nossa estada em São Francisco do Sul, acabamos nos aproximando ainda mais do CDLA.)

 

Não, não foi um trecho longo! Não foi uma perna que nos tomasse muito tempo. Mas foi certamente “a perna” que exigiu mais de nós todos, em diversos aspectos. Uma perna que jamais será esquecida. Uma perna que tive de esperar até hoje para poder escrever sobre ela. Uma perna que ficou atravessada na minha garganta por muito tempo. Uma viagem que fez com que pra mim, fosse difícil aceitar muitas coisas. Uma história que já contei a amigos, mas não tinha tido força de relatar aqui. 

 

Vamos por partes.

 

A ansiedade de chegar em Floripa era enorme. Era o “fim” do CCS. Era a sensação de “mission accomplished”! Coração cheio de satisfação e orgulho. Todos estávamos ansiosos para isso. Ainda mais porque haveria um almoço de encerramento. Uma celebração etc. Para nós – novatos – seria o ápice da viagem. Não sei se outros velejadores, mais “experientes”, sentiam-se da mesma maneira. 

 

Fui, buscar no meu facebook pra ver se tinha algo em que pudesse me basear melhor ao relatar tudo que se passou, mas não. Pelo menos não na minha pagina pessoal. Na época (quase 1 ano atrás) precisei frear meus post relacionados ao trajeto… então não creio que muitos saibam bem o que se passou. Talvez alguém que tenha algum post no Whatsapp, ou mesmo amigos que me visitaram em Floripa (Pri, amo vc!) o saibam… Enfim, encontrei algo na página oficial do AmarSemFim no próprio FB. Posts feitos por mim mesma, porém sem muitos detalhes, apenas algumas informações.  Estes posts vão poder sustentar e confirmar melhor meus relatos e dar uma idéia do que passamos, mas os detalhes mesmo, vou postar hoje, pra vocês, exclusivamente. 

 

### (PAUSA) ###

 

** POST 1 **

Ok, algumas notícias sobre onde estamos e pra onde vamos… Ficamos alguns dias aqui em Joinville, depois de termos saído de São Francisco do Sul (ambos SC).  Conseguimos encontrar uma pequena janela de tempo boa pra navegarmos até Florianópolis – direto. Por razões meteorológicas, não mais pararemos em Itajaí. O “estilo” da navegada ainda é incerto; podemos tanto velejar, como também motorar… o que é, na atual situação (e tendo em vista o “atraso” da nossa data de chegada à Floripa [inicialmente 18/03]) uma grande probabilidade. Enfim, vamo q vamo! A perna deve ter duração aproximada de 20horas. Qdo possível, posto atualizações. Orem por nós – temos 2 tripulantes a mais, e muito bem vindos, que estão nos ajudando neste trecho.

#AmarSemFim

 

 

** POST 2 **

 

Últimas 3 horas de pouquíssimo vento, porém ondas bem grandes (2,5m a 3,5m)… Já estamos c/ Florianópolis a nossa proa… Mas ainda temos chão a percorrer, ou melhor, água!!!

Vamo q vamo. (Graças a Deus q o AmarSemFim é robusto – rsrsrs)

 

 

** POST 3 **

 

Ok, ancoramos!!! Mas ainda não chegamos a Floripa… Foi uma viagem indescritível… mar, onda e vento que nem sei descrever. Mas foi um espetáculo ver o Ric trazer com confiança e em segurança o AmarSemFim até onde estamos ancorados agora. A viagem foi longa e cansativa, (17 horas de ondas de aproximadamente 3m, e ventos de leste constantes de 20knts – c/ rajadas de aprox. 30knts) ele não pôde descansar nem um minuto por conta do mar, vento e ondas… Mas agora ele dorme tranquilo (merecidamente). Aguardamos instruções, agora… para vermos se vamos pra Floripa ainda hj, e qdo vamos… 

 

 

## (CONTINUAÇÃO) ##

 

Saímos de Joinville no fim da tarde. Ou pelo menos era o que parecia. O céu estava escuro e não sei dizer se assim estava pelo horário, ou se pelas nuvens que estavam sobre nós. Se não me falha a memória – e corrijam-me se estiver enganada – deveríamos sair por volta das 15:30, mas creio termos tardado um pouco mais do que isso. Era um trecho que acabaríamos fazendo sozinhos… Ric, as crianças e eu – sem mais tripulantes. Desta vez não haveria “cunhado velejador”, nem “amigo velejador” nos acompanhanado. Mas, por fim, conseguimos tripulação! Um velejador que estava no cruzeiro, porém com outro veleiro, não quis arriscar sair com seu próprio barco (deixando-o em Joinville), mas topou ir conosco no nosso… e junto com ele veio um outro garoto. Então éramos: nós 4, a Jolie (nossa pet) e mais 2 tripulantes que acompanhariam o Ric, ajudando-o no que (e quando, e onde) fosse necessário. Era um trecho que nos tomaria aproximadamente 15 a 20 horas se não me engano. 

 

Bom, saímos e logo na saída do Porto de Paranaguá já sentimos que a coisa estava meio complicada… intensa. Mas ok… vamos seguindo. Por rádio, navios que entravam no porto ou saíam dele começavam a entrar em contato conosco, com as outras embarcações, com os comodoros das flotilhas (agora juntas a flotilha do CCS e a do CDLA), com outros velejadores, alertando-nos sobre o mau tempo e a hora ruim de saída. As flotilhas ficaram em alerta, mas continuamos todos assim mesmo. Ondas altas… bem altas. Mar de um lado, vento de outro. Depois, ondas ainda mais altas… vento forte… rajadas… anoitecer… e muitos receios. Foram horas lutando com o mar e o vento. Ao que entendi, o vento estava bom para levar-nos a Floripa; no entanto, o mar ainda não tinha “virado” – o que nos teria proporcionado uma boa e calma navegação. Era questão de horas. Se ao menos tivéssemos esperado algumas horas a mais…

 

Seguimos viagem… todos os veleiros. Mar e vento continuavam sem se entender. Nós no meio do desentendimento deles, e os navios continuando a nos alertar… Não foi um aviso ou dois. Foram diversos contatos. Sabíamos que estávamos indo contra o indicado e contra o que era seguro. Até a hora em que não havia mais volta… precisávamos seguir adiante.

 

No início as crianças estavam fora, no cockpit… mas, claro, dentro da célula de sobrevivência do AmarSemFim. Mas depois de alguns minutos de navegada, recebemos a ordem do comandante (Ric) para descermos e nos ajeitarmos por aqui mesmo, dentro da cabine. Jantar, nem pensar. Creio que devemos ter comido alguma bisnaguinha e tomado água. Não seria bom comer com tanta agitação no mar. Banho também estava fora de cogitação – seria no mínimo imprudente, pra não dizer perigoso. As crianças então começaram e questionar se tudo estava bem. Acho, ou melhor, tenho certeza de que percebiam o receio, viam o mar, as ondas etc, e também se sentiam inseguros. Com isso o tempo foi passando. Eles na cabine. João já deitado pois não sentia-se bem. Não chegou a passar mal, mas estava com dores de cabeça e achamos melhor que se deitasse em sua cabine. Mari deve ter feito o mesmo, não tenho certeza. Sei que fiquei por muito tempo com o Ric e os outros tripulantes no cockpit. Oferecia-lhes água, algo para comer, conversávamos sobre a situação (extrema para nós), até que um chegou a dizer que nunca tinha velejado num mar e tempo tão ruins. Imaginam a sensação de “bem-estar” que isto nos proporcionou (ironia). Me pareciam ter mais medo do que nós mesmos. Medo todos devemos ter. Devemos respeitar o mar… ele é lindo, maravilhoso… mas é imprevisível (alguns o chamam de traiçoeiro, mas não acho que seja assim). Ric, o comandante, se mantinha no controle do timão. Pernas abertas que ajudavam no equilíbrio, e as duas mãos na roda… E o AmarSemFim ia navegando… encarando as ondas, enfrentando-as. Ora sumindo da vista dos demais, ora ressurgindo. O mesmo se passava com os outros veleiros para nós. Parecia que se iam, e depois voltávamos a vê-los. As ondas nos encobriam a visão constantemente, e não podíamos ver onde estavam, de onde estávamos. 

 

Senti que as crianças me pareciam inquietas. Estavam, seguramente, com medo. Desci para vê-los – o que já vinha fazendo com frequência. Sugeri que fossemos todos para minha cabine… maior, deitaríamos todos por lá. Já tinha avisado o capitão que precisava tomar conta desta parte da tripulação. Ele disse que estava tudo bem e sob controle e foi assim que o fizemos. Na cabine, deitamos. Conversamos. Muitas perguntas. Muitas afirmações. Enquanto isso, o barco deitava de um lado a outro, levado pelas ondas e pelo vento… inclinava tanto que éramos incapazes de ficar em uma mesma posição, pois saíamos rolando, sem controle, para a direção que o veleiro pendesse. Por algumas vezes escutei um surdo desabafo “viramos!” vindo de uma das crianças. Mas ninguém comentava nada. Tentando acalmá-los, sugeri que brincássemos de esmagar quem estivesse nos extremos da cama. Da mesma forma quando estamos em um carro, descendo a serra, e conforme a curva, quem está em determinada ponta acaba esmagado pelos outros que estão no meio ou na outra ponta… brincadeira de criança. A “brincadeira” liberou grande parte do stress! Mais calmos, perguntavam sobre os outros veleiros, menores… como deveriam estar passando… se pra gente estava desta maneira, nem imaginávamos para os outros. Por um tempo, oramos por todas as embarcações, e seus tripulantes. Em especial os veleiros menores das flotilhas, ou por quem sabíamos poderiam não se sentir bem. Enfim, dormiram! Agradeci a Deus. Subi. Perguntei como estavam as coisas… clima tenso no cockpit. Silêncio, ou respostas monossilábicas. Mto atento, Ric comandava nossa casa como jamais o vira. Um verdadeiro Capitão. (Oh, Captain, my Captain!). Os ajudantes, já a esta altura também bastante receosos, acabaram descendo e deitaram-se nos sofás da sala. Ric ficou só. Procurei acompanhá-lo, subindo ao cockpit vez ou outra. Em dado momento, cansado, via que sustentava o peso do próprio corpo apoiando-se no timão, agarrando com as mãos a roda, e mantendo as pernas abertas para dar equilíbrio. E então eu desci para ver as crianças… que ainda dormiam. De vez em quando despertavam levemente; normalmente quando o barco se inclinava demais. Mas viam que eu estava por ali e voltavam a dormir. Lembro-me de ter deitado um pouco também… precisava fechar os olhos pelo menos por alguns minutos. Mas despertava pelo mesmo motivo deles. Sempre era uma onda que vinha de determinada direção, as vezes mais alta, que fazia parecer que o barco deitava no mar. Muitas vezes pensei “Agora, virou!” e quando a adrenalina baixava, pedia a Deus novamente pelos barcos menores. Houve um barco que se “desculpou” com o comodoro, e disse que se desligaria do grupo, parando em Porto Belo, pois, infelizmente, não podia… não conseguia mais continuar. Mais no fim do percurso, a coisa parecia estar menos intensa. Saí para acompanhar o Ric, que trouxe o AmarSemFim sozinho, no braço, na garra e na graça da Deus; e depois de 17 horas – conforme o post no FB – chegamos de frente pra Floripa, ainda do lado do continente. Atracamos e descansamos todos… esperando os demais chegarem.

 

As pessoas nos perguntam sobre os perigos de viajar de barco. Sempre respondemos que não há perigo se o fizermos com sabedoria e segurança. Mas o que isso quer dizer? Se observarmos bem a meteorologia, a maré, os ventos… e principalmente se não tivermos pressa, a possibilidade de uma viagem tranquila é muito alta. Neste caso, porém, havia pressa. Nem todos no cruzeiro estavam despreocupados com a data de chegada a Floripa. Havia velejadores já com passagens compradas. Do meu ponto de vista, foi aí que todos erramos.

 

Ok, não foi uma viagem desastrosa. Tudo bem, acabou tudo dando certo. Mas me questiono se era necessário termos passado por tudo isso. Na minha ira e revolta, lembro-me de dizer que na reunião de comandantes, havia pessoas pensando em si, e outras menos corajosas, que não foram firmes o suficiente para deixar claro que as condições não eram boas. Enfim… a viagem aconteceu, foi difícil para nós, mas vencemos (pela graça de Jesus), e chegamos bem (cansados, mas bem) a Floripa.

Do trecho, nenhuma foto!!! (Pudera!)
Mas agrego uma tirada do amanhecer em Joinville, um ou dois dias antes de zarparmos.Image

Autor: helenayoshima

Tripulante da embarcação "Veleiro Amar Sem Fim"

6 pensamentos sobre ““A TORMENTA” – Cruzeiro Costa Sul 2013 Ilhabela (SP) – Florianópolis (SC) – Trecho São Francisco/Joinville (SC) – Florianópolis (SC)

  1. Verdade família Amarsemfim, a meteorologia é de fundamental importância para termos uma navegação tranquila, e como diz o ditado “a pressa é inimiga da perfeição”. Mas graças a Deus tudo correu bem e serve sempre como aprendizado. Bons ventos.

    • Este é um dos meus lemas (pessoais e particulares) preferidos, Cláudio!!!

      “A pressa é inimiga da perfeição!”

      Junto deste, gosto muito do:

      “A gente faz o que dá, com o que tem!”

      Enfim… é isso aí!!! Abraços a tds aí, e pra ANI tbm 🙂

  2. Olá amigos,
    Não sabia que a situação tinha sido tão difícil assim, fico triste pelo ocorrido e por não estar ali para compartilhar com vcs estes momentos difíceis.
    Você está coberta de razão , houveram erros! Por parte de terceiros? Talvez, mas em igual proporção por nossa parte, capitães de nossas vidas e embarcações.
    Foi por este motivos que me desliguei do grupo em Joinville, eu não tinha mais tempo, e não queria comprometer o grupo ou minha família.
    Este fato não é algo isolado e já ocorreu de forma semelhante em outras situações, mostrando que, mesmo em grupo ou flotilhas, no final das contas a decisão tem que ser do comandante de cada embarcação.
    Tenho certeza que da próxima vez, agora mais experiente, o Ric irá se posicionar de forma mais dura quando as decisões não estiverem de acordo com o seu pensamento..

    Mas fica a alegria da vitória, que são muitas e muitas desde que o AmarSemFim deixou as águas do canal de São Sebastião.
    Abraços
    Paulo Ribeiro
    Bepaluhê

    • Excelente teu comentário, querido amigo Paulo…
      Concordo com cada frase e pensamento, e tenho certeza de que aprendemos muito, sim!
      Admiro (e admirei na época) a tua decisão, embora na minha ingenuidade eu não a compreendesse integralmente!!! Parabéns pela presença de esprito e pelo zelo com a família – de quem aliás, temos muitas saudades!!!
      Bjs a tds! 🙂

  3. Querida Helena, não sabia que vocês passaram por tamanha dificuldade. Vejo a mão de Deus conduzindo vocês. Creio que essa experiência, com certeza servirá para vocês analisarem e tomarem decisões mais acertadas em outras situações. Servirá para vocês construirem bases sólidas para todos os aspectos das suas vidas. Do contrário, ela será varrida pela primeira tempestade que passar sobre vocês. Lembrei-me da parábola que Jesus nos disse em Mateus 7.24-27. A forma como o seu capitão agiu e como você conduziu sua tripulação passou segurança àqueles que dependiam de vocês. O livro de Jeremias nos dá instruções a esse respeito. Quando realmente nos responsabilizamos por aquilo que estamos fazendo e trabalhamos com atenção e diligência, o resultado é de qualidade superior. Assim deve acontecer com a nossa casa e com os demais aspectos da nossa vida. Se não fizermos isso, ficaremos à mercê das influências do mundo. Se não for nós mesmos, quem se responsabilizará pela educação dos nossos filhos, por exemplo. Tomem atitudes após orações. Não basta escolher os mais sólidos fundamentos para erguer a nossa vida; é preciso tomar posse dela. Essa é uma instrução clara de Deus ao seu povo, no livro de Jeremias 29.5.Edificai casas. É construir a nossa vida tendo como base a Palavra de Deus. Jeremias transmitiu diversas instruções ao povo de Deus, com o objetivo de que aquele povo mesmo estando longe de sua pátria, vivessem da melhor forma possível. Que o Senhor os abençoe e lhes dê sabedoria, sempre. Lídia.

    • Lidia!!!! Que delícia ver teu comentário…
      Sempre gosto quando vc comenta, pq os posts sempre vêm cheios de palavras de motivação, votos de bêncãos e mensagens embasadas na Palavra!
      Obrigada! Muito brigada pelo carinho, por nos acompanhar e nos sustentar/suportar através das suas orações – sentimos o Seu cuidado sempre, como resposta a elas.
      Fiquem com Deus. E que a Sua Paz esteja sempre com vcs!

      Bjs
      Helena Y.

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