Saímos dia 08/08 – quinta-feira.
Ric não dormiu aquela noite toda. E eu parecia mais estar no meio de uma batalha intensa e sem fim em meio ao sono e durante a noite… dores fortes por todo o corpo me tiraram a tranquilidade do sono; mas por outro lado, por me manterem “ligada”, me permitiram acompanhar os passos do Ric, e estar alerta… agindo com prontidão ao comando que veio dele lá pelas 6:50 da manhã:
“Tem que ser agora, pois a água está baixando muito rápido!”
Pronto! Bem assim! Já estava de pé pronta para auxiliar no que fosse necessário.
Foi assim que saímos… ou melhor, que tentamos sair.
Há poucos metros da saída do canal do clube, que nos leva ao Rio de la Plata, encalhamos… e feio!!! Além da maré estar baixando rapidamente, a escuridão tampouco me permitia ver as demais bóias de marcação e o resultado foi inevitável. Depois de “marcha-a-ré” e “avante” inúmeras vezes, Ric lançou o Optimist das crianças na água (porque não íamos ter tempo de baixar o bote), e me mandou baixar a âncora. Sua idéia era pegá-la (estando ele no Optimist), lançá-la adiante e tentar desencalhar o barco com a força do guincho que puxaria a âncora, já afixada. Mas algo no meio do plano deu errado. A corrente da âncora escapou da mão do Ric… e a correnteza do Rio foi levando o Optimist com meu marido, nosso capitão dentro dele… cada vez pra mais longe… A mesma correnteza que o levava pra longe, nem nos fazia cócegas, e seguimos encalhados.
Em um momento de apuro, Ric se jogou na água e tentou nadar em nossa direção. Conseguindo ou não, preciso lembrar que era cedo, era o Rio de la Plata e estamos no inverno, ok? Enfim, tentando nadar contra a correnteza, neste frio e trazendo o Optimist, além do traje impermeável que vestia… resultou que ele voltou ao Optimist e pediu que eu chamasse o clube pelo rádio, enquanto nos tranquilizava afirmando que estava tudo bem… e se afastava cada vez mais. Chamei o clube e pedi auxílio. Tardou bastante!!! E o Ric já parecia para nós um pontinho no horizonte… e nós seguíamos encalhados.
Antes mesmo do clube aparecer com o socorro, um casal amigo nos chamou pelo telefone e em seguida apareceu com seu barco para resgatar primeiro ao Ric, e depois nos auxiliar a desencalhar o Amar Sem Fim. Não tardou muito depois disso, apareceu o auxílio do clube. Nisso, nosso comandante já estava abrigado e se aproximava a cada segundo. Este mesmo casal, junto com o marinheiro do clube que veio prestar auxílio, em uma manobra que surpreendeu, conseguiu desencalhar nosso veleiro e pudemos por fim voltar ao clube.
Banho quente, roupas secas, aquecedor ligado no modo “micro-ondas” e chá ajudaram a fazer com que a temperatura do corpo do Ric voltasse ao normal. E descansou! Eu também! As crianças ficaram vendo algum filme e usando a tecnologia – que estava liberada.
Ao meio-dia, fomos “acordados” pelo mesmo marinheiro que havia nos socorrido, que nos informava então que a maré estava alta, e que se quiséssemos sair, teria de ser naquele momento. Ele nos ajudou e nos acompanhou até um ponto em que a maré não mais nos oferecia risco, e finalmente seguimos em direção a Colonia del Sacramento – no Uruguay.
A viagem foi tranquila e durou pouco mais de 5 horas. Atravessamos o Rio de la Plata e ambos os canais (do lado Argentino e do lado Uruguaio) por onde navegam os grandes navios – uma vez que o Rio tem zonas bem traiçoeiras com relação a profundidade dele – por isso a necessidade dos canais.
Fomos presenteados com uma bela viagem de saída da Argentina, uma linda chegada ao Uruguay… curtindo logo que chegamos um belo por-do-sol.
~Até aqui nos ajudou o Senhor! (1 Samuel 7:12)