Saímos do Yacht Club às 11:00am, e logo voltamos (haha!), pois vimos que o S. Filipe (amigo querido que tínhamos feito em Rio Grande) estava vindo despedir-se e trazer um presente para a Maria Clara. S. Filipe tinha nos visitado no dia anterior pela manhã e à tarde com presentes e muito carinho. Voltamos, nos despedimos meio de longe para não ter que estacionar o barco outra vez, agradecemos o presentinho da Maria e seguimos ao posto de abastecimento na saída de Rio Grande para abastecer o veleiro, uma vez que parte da viagem deveria ser feita a motor. Ainda no posto, fomos “reconhecidos” e pudemos conhecer e conversar um pouco mais com outros amigos. Pagamos. Saímos.
O tempo na saída estava feio, fechado. Mas a previsão de chuvinha fraca era para mais pra frente no dia. Já estávamos esperando por ela… e ela veio. Mas veio bem suave, junto com uma frente fria (com vento sudoeste que soprava, contra às previsões, bem suave, também). Parecia que a frente que ameaçava vir com força média, não viria… e não veio (pelo menos não quando previsto). A noite chegou e ainda nada de tempo ruim. O mar mexido que pegamos na saída da barra logo diminuiu e, apesar de não estar suave, tampouco estava algo tenso. Viemos a primeira noite bem tranquilos. Tanto Ric quanto eu descansamos bem e assim passou a primeira noite! Motorando.
Então, nasceu o sol e o segundo dia começou muito bom. Logo cedo vimos golfinhos nadando e pescando… ainda em RS. Muito bonito e ensolarado estava o dia, e logo as crianças já estavam de camiseta e eu, tomando sol. Não estava uma temperatura alta, mas pra quem saiu da Argentina e Uruguay, estava perfeito pra pegar uma corzinha!!! 🙂
O dia foi passando e nada da frente fria chegar. Até caçoamos dela questionando a meteorologia e os ventos que não vinham. Não era nada forte, mas nos ajudaria a velejar. E por não terem vindo antes, passamos o 1º dia todo no motor. Como o segundo dia apareceu mais bonito, e um certo vento soprava bem suave, conseguimos velejar bem… desde cedo… Até o fatídico informe das 16:00hs pelo radio. “Alerta informe, ventos sudeste e sudoeste força 7 e 8 previstos até o dia 22, bem como ondas também de sudeste e sudoeste de 3 a 5 metros e mar grosso de ressaca entre Chui e Florianópolis”. Opa… COMO?????
Chegamos até a contatar o operador e perguntar quando este report havia chegado, porque não tínhamos conhecimento dele – e olha que estudamos bem os prognósticos… “O informe chegou hoje cedo pela Marinha do Brasil” nos informou o operador!!! Ventos F7 e F8 foram os ventos que levaram o Tunante II (aquele veleiro Argentino que segue desaparecido há mais de 30 dias – info link) e desapareceram com ele. Seríamos, ironicamente (porque estávamos com eles em La Paloma!) o “Tunante II – A Continuação”??? Confesso que me apavorei, embora tenha disfarçado muito bem. Tive falta de ar, mas dizia apenas que precisava deitar (no cockpit mesmo), com a desculpa de que ia cochilar um pouco para ajudar melhor a noite. Ric chamou o radio informe de Osorio e conversou bem com um dos operadores que foi muito gentil e nos deu melhores e mais detalhes sobre o que enfrentaríamos, anotou nossas coordenadas, nos “servindo” muito bem e exercendo sua função maravilhosamente bem. As ondas altas de 3 a 5 metros chegariam a Osorio as 21:00 daquele mesmo dia, e os ventos, somente as 9:00 (do dia seguinte). O operador ainda pediu nosso site para poder nos acompanhar (o que achei bem curioso e interessante… ele até poderia nos seguir pelo SPOT!!!).
Nessas horas, somente o sangue de Jesus, vocês já sabem. Lembrando de um louvor (link da canção e letra) que tínhamos aprendido na Igreja Batista de Rio Grande, segui cantando e clamando por livramento… que as ondas e os ventos viessem suaves e declarando que Ele é e sempre será Senhor soberano sobre todos e que os ventos e as ondas ainda respondem ao Seu comando. E eu creio que a 1ª resposta de oração veio quando o Ric, depois de ter negado a minha sugestão de nos aproximarmos da costa (como tínhamos planejado desde o início, porém já estávamos a 28mn dela), sugeriu que ligássemos o motor junto com a vela – que ainda seguia erguida porque o vento ainda soprava, o sol ainda brilhava e planejava se pôr – para irmos mais rápido e sairmos daquela região, tentando escapar da ressaca e dos ventos e ondas que certamente nos alcançariam. Glória a Deus!!! “Sim, claro!” lhe disse (Ufffa). E seguimos a uma velocidade de 9kts variando um pouco pra mais ou menos e logo… NADA!!! Chegou a noite, deu 21:00 horas e nada… 22:00… 23:00… Somente quando já eram as 2:00am do terceiro dia foi que as ondas começaram a chegar. Mas para a glória de Deus e nossa segurança, elas vinham conforme previsto pelo informe, de sudeste e sudoeste. Por que isso era bom para nós? Porque ondas e ventos que vêm de sudeste e sudoeste nos levam para o norte – a direção para a qual estávamos indo, e poderíamos ter nossa velocidade aumentada, nosso horário de chegada antecipado e até pegar jacaré com o AmarSemFim nas ondas grandes. E foi o que aconteceu.
A noite, a escuridão não nos permitia ver muita coisa e não conseguíamos dimensionar as ondas… O vento também não tardou a nos alcançar. Mantivemos a vela e o motor durante a noite. Dormimos pouco, mas dormimos… intercalando e por vezes até cedendo ao sono ao mesmo tempo. Percebe-se que as ondas estavam altas (e sim, estavam) mas que, por sua posição, não nos causavam transtorno e nem chacoalhavam muito o veleiro. E assim viemos surfando as altas ondas da ressaca e os fortes ventos (que chegaram a 27kts – longe do F7 e F8 que fora previsto). Pela manhã ventos e ondas continuavam, havia esfriado um pouco, mas estávamos encarando o dia positivamente. Depois de agradecer a Deus pelas ondas altas mas espaçadas (aleluia) que nos mandara, bem como os ventos suaves que nos soprara, pedi por um pouquinho de sol. Lembro-me de Lhe dizer que sabia que era mais um capricho, mas que seria muito bom e que eu seria muito grata se ao passarmos o cabo de Sta Marta Ele nos agraciasse com um pouquinho de sol. Era impossível aos meus olhos, o céu estava todo encoberto!!! Mas logo depois, muito antes ainda do cabo de Sta. Marta, mais uma resposta veio de maneira linda. Seguimos viagem surfando as ondas, com ventos mais amenos (18kts a 20kts) e cada vez mais perto de Floripa e com o sol raiando lindo e forte.
A viagem que teria uma duração de 70 horas, aproximadamente (fizemos esta mesma perna mas na direção oposta no ano passado e tardamos 67 horas), teve seu horário de chegada antecipado devido a corrente, aos fortes ventos e ondas… pelo que somos imensamente gratos. E podemos dizer que fizemos o trecho em 52 horas. Chegando pelo sul do canal de Florianópolis e ancorando numa região abrigada ainda dentro do canal.
Mas a passagem pela entrada Sul do canal foi um outro capítulo da viagem! Ainda com ventos favoráveis e ondas também, porém bem altas. A entrada do canal é estreita, rasa e com muito quebra-quebra de ondas. De um lado havia uma praia onde as ondas quebravam forte, e do outro as pedras, de onde podíamos ver os espirros de longe. A passagem teria de ser precisa e eu não estava pronta. Mandamos as crianças para dentro da cabine e fechamos a porta de entrada. Mais uma vez me faltou ar e disfarcei meu medo. Ricardo segurava num metal junto ao timão com tanta força que, quando finalmente passamos o canal e ele soltou o metal, sua mão estava branca… suava muito. Claro, muito tenso. Se o barco mudasse de direção um pouco que fosse, por conta das ondas fortes, poderíamos ser atingidos pela onda seguinte que nos pegaria atravessados e então a chance de virar o barco era bem alta. MAS, além de um comandante muito abençoado, agraciado e habilidoso, temos um piloto automático ímpar!!! Que, levado a velocidade de resposta ao máximo (o que impediria que ele tardasse em acertar a rota, e nos protegeria, impedindo-nos de mudar a direção e sermos atingidos por ondas de través), não se desviou nem um segundo, um milímetro sequer da rota, mantendo-nos na direção certa e segura o tempo todo… e seguimos surfando as ondas até passar pelo canal… que depois virou uma lagoa (graças a Deus).
Foram os momentos de maior tensão. “Entramos na praia?”, “Seguimos em direção ao canal?”, “Viramos e seguimos por fora para o norte da ilha?”… tantas dúvidas, mas em meio a elas todas, a certeza de que Ele estava no comando nos trouxe alivio e segurança. Confesso que tive medo… e muito. E seguramente Ricardo também não estava 100% confortável com a situação, mas estávamos (como sempre estamos) no centro da Sua vontade e debaixo da Sua poderosa mão… que nos livrou e nos trouxe a Florianópolis em segurança!
Cá estamos agora… esperando a visita dos queridos que estão na região… curtindo cada momento nesta ilha imperdível!
Depois disso tudo… Descanso!!! Descanso no dia da chegada e descanso no dia seguinte!!! Lembrando a cada segundo de quão grande é Deus, e de que Ele é bom o tempo todo, todo o tempo Deus é bom!
Somente a Deus a Glória!
AmarSemFim |)|)
Vídeo do 1º e 3º dias com um pouco de calmaria:
Fotos:
- Tempo feio na saída de Rio Grande – RS
- Tempo feio na saída de Rio Grande – RS
- Tempo feio durante o 1º dia
- Pau do Spinnaker (2º dia) que entortou (mas não arrebentou nenhum cabo – vai entender!)
- Mar e sol
- Mar e sol
- Pau do Spinnaker (3º dia) que entortou (mas não arrebentou nenhum cabo – vai entender!)
- Naufragados – Ilha de Sta. Catarina
- Chegando na Ilha de Sta. Catarina
- Naufragados – Ilha de Sta. Catarina
- Naufragados – Ilha de Sta. Catarina
- Naufragados – Ilha de Sta. Catarina
- Naufragados – Ilha de Sta. Catarina
- Naufragados – Ilha de Sta. Catarina
- Chegada no sul da Ilha de Sta Catarina
setembro 28, 2014 às 5:06 pm
A ELE, toda a gloria!